Por que Inhame?
Desejo não tem controle. Culinária não tem limite. Inspirada por uma súbita vontade de comer cheesecake em uma noite insone de gravidez, decidi pensar em uma receita revolucionária. Minha boca salivava ansiosa por pelo menos um pedaço desse manjar dos deuses. Antes de acordar meu marido para que ele pudesse comprar os ingredientes e, assim, evitar que seu filho nascesse com cara de cheesecake, me apercebi de um detalhe: Cheesecake de quê? Eu sabia a forma do que queria, mas não exatamente o sabor. Precisava ser suculento, mas morango seria por demais corriqueiro. Outra fruta, talvez? A garantia de sucesso do chocolate? Talvez a ousadia de uma cenoura, de repente? Seriam as cenouras ousadas?
Não era isso. Com muito custo, virei minha enorme barriga de seis meses para o outro lado da cama procurando uma resposta. Em vão. Eu queria todos os sabores, mas não queria nenhum. Olhando para o marido, Inácio, pensei que queria fazer um Cheesecake de Inácio. Nem precisaria mandá-lo buscar os ingredientes. Mas isso seria muito difícil. Subitamente, tive uma epifania. Eu faria uma obra prima da gastronomia gestante, e com o sabor que bem entendesse. Meu cheesecake poderia ser morango, chocolate, cenoura, nozes, escarola, fandangos ou jiló. O mais importante não era a cobertura, mas sim, a massa.
E a massa ia contemplar meu desejo de comer o Inácio. As ideias vinham continuamente, minha mente parecia um turbilhão de sabores, nosso futuro filho chutava histérico percebendo a aproximação de uma grande invenção. Finalmente, a minha Vênus de Milo estava completa, faria a massa do cheesecake de inhame, apelido pelo qual Inácio atendia quando era moço. Além de poder comer meu marido em qualquer receita, com qualquer cobertura, salgada ou doce, ainda poderíamos desfrutar das maravilhosas propriedades organolépticas do inhame.
Antes do nascimento de meu filho, Emanhi Fonseca Godines, nasceu uma grande ideia e um próspero negócio!